segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Never Stop


Celulares, e-mails, câmeras de segurança, messengers, redes sociais. Não me entendam mal, não sou anti-tecnologia. Pelo contrário, sou mui adepta. Só quero falar sobre como essa onda, aliada aos hábitos e à correria do cotidiano, tornou-se um rastreador de gente, um detetive, um observador vitalício.


Não saímos para rua sem levar o celular. Imagine só, se alguém tenta falar com você e não pode imediatamente lhe localizar? Avisa a polícia que você está desaparecido. Foi viajar sozinho? Nem pense em conversar via webcam com a família inteira menos do que uma vez por dia. Não respondeu o e-mail de um amigo? Das duas uma: ou será procurado nos hospitais ou acusado de ser um amigo ausente – deve estar com um problema sério, envolvido com drogas. Ou álcool, quem sabe.


Ao mesmo tempo em que estamos mais frios e distantes, ficamos cada vez mais inteirados do cotidiano alheio. Sabemos onde todos estão, a que horas vão voltar, o que estão fazendo, quanto estão gastando. Só não sabemos o que queremos. Não temos tempo para isso. Antes de saber se tem algo nos incomodando, alguém já percebeu os sintomas, diagnosticou, disse que você precisa se divertir mais e te levou para uma festa. Ninguém tem tempo para parar tudo, tirar um fim de semana para fugir de todos e ficar em silêncio. Ouvindo apenas os próprios devaneios. Não há esconderijo da sociedade, alguém sempre nos encontra facilmente. Difícil mesmo é se encontrar.


Estamos todos conectados: eu, você e o mundo inteiro. Sabemos o que Paris Hilton e Amy Winehouse fizeram ontem à noite, mas não temos a menor ideia de como foi o dia de nosso irmão. Seguimos o William Bonner no Twitter, o ajudamos a escolher suas gravatas para o Jornal Nacional, mas não prestamos atenção nas notícias. Temos nossos ídolos, lemos suas biografias, conhecemos tudo a seu respeito, enquanto não conseguimos imaginar o que nosso pai gostaria de receber de presente em seu aniversário. Acreditamos em livros de auto-ajuda, não em nossos pensamentos. Vivemos em rede, adquirindo conhecimento, coletando informações. Vivemos para o mundo. É uma pena não sobrar tempo e atenção para o autoconhecimento.

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