quinta-feira, 30 de junho de 2011

Sementes

Seremos sete bilhões em outubro, confirmou a Organização das Nações Unidas. Facilmente caímos na armadilha de enxergarmo-nos como simples grãos de areia compondo a imensidão do Deserto do Saara. Com um algarismo tão intimidador, nem sempre fica claro o que devemos responder à indagação “você é só mais um”. Nos deparamos com ela constantemente e parece que a única resposta nítida é a insegurança – além, é claro, do sinal de interrogação estampado em nossas testas.

Por aí tem gente talentosa, com habilidades incríveis, criatividade para dar e vender, destacando-se nos quatro cantos. E você aí, igual a tantos. Não toca nenhum instrumento musical, não dança, não canta, não faz poesia, não desenha, não sabe contar piada, não sapateia, não possui medalhas, não inventou algo incrível, não descobriu a cura de uma doença, não é especializado em nada. “Nada” ecoa, posso ouvir daqui. Então do que as pessoas gostam em você? Como não ser esquecido? O que faz com que você não seja invisível na multidão? Respondo sem titubear: encanto. É isso mesmo, meu bem. Magia pura, tão humanos que somos.

Nem só de destaques vive o mundo. Os gênios e as estrelas estão aí para marcar gerações, mudar a história e deslumbrar plateias. Mas nós, os Fulanos, Ciclanos e Beltranos, temos lá nosso brilho; também fazemos a Terra girar. Deixamos nossas marcas nos lugares pelos quais passamos e plantamos nossas sementes aqui e ali. Delas, brotam sentimentos, florescem afetos e desabrocham meios únicos de enxergar virtudes. Revela-se a bela e indesvendável forma do código genético: a essência.

Tudo bem, somos muitos. Mas, desses tantos, cada um de nós representa a amplitude da peculiaridade humana e a singularidade da existência. Não enxergar em si uma infinidade de possibilidades é cavar a própria sepultura – veja bem, há cemitérios por todos os lados. Ser alguém não é aparecer, nem esperar que o mundo diga com todas as letras: “Pronto, você garantiu o seu lugar”. A maioria de nós não vai ouvir essa frase; nem precisa. O crédito tem que vir de dentro, assinado pelo apreço cultivado por si e pela certeza de que existe um espaço só seu - em meio aos sete bilhões.

Somos únicos por natureza; sinta-se feliz. Imagine o quão desagradável seria se houvesse outro de você - ainda que só mais um. Independente disso, autenticidade não implica ser diferente de tudo e de todos, ou completamente inovador. Basta ser legítimo. Eis a magia.