segunda-feira, 26 de março de 2012

Eu, você & os Rolling Stones


Ela é uma das coisas mais humanas que conheço, e com a qual nos deparamos já nos primeiros anos de vida. Sua dimensão aumenta com o convívio social, mas é absolutamente pessoal e intransferível. Há quem negue ter a conhecido, mas percebe-se enganado com conjunções adversativas que escapam sem querer. É diferente para cada um, mas raro é quem não tenha provado o sabor agridoce da insatisfação.

A peculiaridade com a qual ela se apresenta depende, na verdade, da postura de cada pessoa; o diferencial está no enfrentamento. Enquanto para uns serve como combustível para movimentar-se, em outros instala-se como uma doença crônica, cujos principais sintomas são paralisia, surdez e cegueira - tudo metafórico, é claro. Multifacetados, somos ao mesmo tempo aquele que se move e que permanece parado.


Temos a lamentável mania de reclamar de falta de tempo, quando na verdade o que nos falta é organização. Dizemos incessantemente que estamos cansados, mesmo que estejamos apenas com preguiça, sensação que na maioria das vezes vem da mente, e não do corpo. Importamo-nos com a nossa imagem aos olhos dos outros, em vez de tomar atitudes que fariam com que nos sentíssemos melhor. Cansamos da rotina, mas pouco fazemos em busca de uma mudança. Acomodados que somos, colocamos nossas frustrações na conta do acaso, do tempo – de todos, menos na própria. E pagamos fiado.

Para os desassossegados, qualquer sinal de insatisfação leva a uma mudança: se algo está incomodando, é porque existe uma atitude que precisa ser tomada. A inquietude, que a tantos incomoda, para muita gente serve de ímpeto para tentar novos rumos. E os responsáveis por esses passos somos nós mesmos, mais ninguém. Há quem seja assim por natureza; há quem se mobilize em alguns aspectos e noutros não. Quisera eu desassossegar-me com maior frequência.

Em 1965, Keith Richards despertou-se no meio da noite e, ainda sonolento, rabiscou umas palavras e gravou alguns acordes com sua guitarra, para logo voltar a dormir. No dia seguinte, ele e Mick Jagger retomaram o material e compuseram o que viria a ser talvez a canção mais conhecida dos Rolling Stones. Satisfaction agradou ao público e tornou-se um dos hinos do rock’n roll. Hoje a gente canta com energia e sem pensar, não levando em consideração que a frase que ouvimos a voz de Jagger repetir traduz o que dizemos diariamente, apenas com outras palavras ou gestos. Para quem can't get no satisfaction, arrisco um palpite: onde sobra descontentamento, faltam iniciativas. Hey, hey, hey, that's what I say.



Imagem: Gettyimages