Às vezes me pego fazendo parte de um time do qual
não tenho total orgulho. Para nós, o equilíbrio nem sempre é natural, então
precisamos nos apoiar com firmeza sobre os dois pés. Ok, todo mundo precisa. O
que nos diferencia é que um dos pezinhos se posiciona um pouco distante do
outro. Deixamos ele logo ali, atrás. Longinho. Temos um pé atrás, entendeu?!
Perdão, só queria me certificar.
A raça dos desconfiados não dá sossego, não
acredita fácil. A gente suspeita, interroga, indaga, desconfia mais um pouco,
levanta uma das sobrancelhas e respira fundo. Haja respiração. Até podemos
aceitar (que é um verbo incrível, por sinal), mas acreditar, bem acreditadinho,
aí já é outra história. Tem alguém aí duvidando?
O
pior de tudo é que a gente se acha muito esperto. Olha só, quanta genialidade,
não botar fé em ninguém, viver pensando que tem mais algo por ser revelado. O
pior é quando nós mesmos somos alvo de desconfiança – aí a coisa fica feia. E veja
só quanta coincidência: os destaques desse time também brilham nas equipes dos
solitários, dos avarentos, dos incompletos. É um brilho ofuscado, como você
deve imaginar.
É
claro, tem muita gente que merece boas doses de desconfiança mesmo. Os dois pés
bem longe, a vários passos de distância, inclusive. Mas essa quantidade
excessiva de espertinhos no mundo, esses que acham bonito passar por cima dos
outros, não é culpa dos bem intencionados. Tem gente que é bacana. Que devolve
o troco quando vem errado. Que não estaciona em vaga preferencial. Que quer te
fazer feliz e não de trouxa. E mais importante: tem gente que enche a forminha
de gelo. Amém.
A
boa notícia é que, com um bom treinador, esse time pode aproveitar o dom peculiar, esse faro aguçado – até demais.
Não, não estou prestes a dizer que deveríamos todos explorar a veia investigativa. A verdade é que quem sempre
acha que tem outra versão da história escondida está a poucos passos de
aprender a enxergar a pluralidade, de reconhecer que há sempre mais de uma voz
para discursar.
Instintivamente, é muito fácil achar que tem algo de negativo
do outro lado da porta, é uma autodefesa. Porém, com um pouquinho de esforço,
a gente aprende a controlar o impulso cético. Basta ser um atleta dedicado,
frequentar os treinos e se esforçar, gente. Ou pelo menos encostar bem os pés
no chão, para conhecer de antemão o território onde se pode cair quando nossa
intuição para o bem falha.