- Fulaninho, você está bem? Você anda tão quieto. O que está acontecendo? Você está triste, está escondendo algo. Qual é o motivo? Tem que ter algum motivo!
Ela está por todos os lados. Nas revistas, vem como a dieta dos sonhos – emagreça dormindo! Nos livros, os 100 segredos das pessoas que a possuem, ou os 12 passos para alcançá-la. Na televisão, pessoas perfeitas – não têm olheiras, pele oleosa ou mau hálito quando acordam – sempre chegam lá no final da história. Nas farmácias, vem em cápsulas. Nas vitrines, apresenta-se como tudo o que você sempre quis. Compramos momentos de alegria, pensando estar levando para casa a tal da felicidade.
A verdade é que estamos sempre em busca dela e acabamos acreditando que podemos encontrá-la por esses meios. Nada melhor do que uma vida cheia de alegrias, mas estamos comprando esta ideia de que a tristeza é abominável e nos atrasa. Atraso mesmo é querer banir algo que faz parte do ser humano. Não fomos programados para dormir e acordar com um sorriso no rosto. Sentir vontade de chorar mesmo sem saber motivo não configura depressão; é apenas uma emoção se manifestando. E quando há motivo, melhor ainda. Lamentável é não sentir nada.
Ficar alegre pode ser uma consequência de ser feliz, mas não necessariamente. É possível ficar alegre por um tempo mesmo sem estar feliz, assim como se pode ser feliz sem ficar alegre. Confusões semânticas à parte, o que precisamos mesmo é de paz interior. Estar em paz traz felicidade. O significado é diferente para cada um - para mim, é um estado de espírito. Não é preciso sair dando pulinhos por aí, ir a festas todas as noites, contar piadas e rir o tempo todo. Essa paz permite ficar alegre e triste sem questionamento, sem culpa, sem inquietude. Melhor do que simular um sentimento é simplesmente deixar-se ser. Vamos nos permitir.
