segunda-feira, 18 de maio de 2015

Sangrar

Depois de sobreviver à bateria de desfavores que 2014 me proporcionou, a chegada de 2015 veio como um fôlego necessário (e na hora certa). Recém estamos em maio e, olhando pra Ingrid exausta e ao mesmo tempo esperançosa do ano passado, concluo: mal sabia eu que em apenas cinco meses viveria o melhor e o pior ano da minha vida.

Logo em janeiro as coisas mudaram completamente. O endereço, as atividades, as companhias — enfim: EU, todinha renovada, porque não dá pra ficar parada no mesmo lugar depois de certos tombos. Então lá fui eu, em frente, adelante.

Em menos de um semestre redescobri minha liberdade, meu tempo e minhas qualidades, que tinham sido depreciadas por toda sorte de motivos, inclusive por minha desatenção. Foram muitas boas revelações e conquistas em um só golpe. Mas eu também dei de cara com um turbilhão de decepções.

Fui confundida com um saco de pancadas inúmeras vezes. É incrível como a gente se torna alvo quando mostra pro mundo que sabe se reerguer. Parece que quando se supera algo pesado expondo a própria força as pessoas leem nisso a seguinte mensagem: sou forte, vem ver se consegue me nocautear.

 2015 tem me ensinado muito sobre sangrar. Venho descobrindo que quase todo mundo evita encarar as próprias feridas, mas é raro ver alguém pensando duas vezes antes de mexer nas dos outros. O discurso silencioso é algo como “se é pra pele de alguém romper e o sangue escorrer, que não seja o meu”.

Pois bem: eu desisti de ter medo da dor. Não temo mais o desespero do peito aberto. Estou em paz com a vulnerabilidade que a gente mostra quando decide não ser só mais um boçal insensível.

Gosto de encarar cada corte com cautela e entender a motivação do golpe. Eis outro ensinamento: geralmente, quem tenta te machucar é quem mais está lutando contra a própria aflição. E é preciso força pra entender isso e permanecer centrado. Só assim é possível não rebater.

Cinco meses passaram voando, mas carregam consigo um roteiro recheado de experiências. Aguardo os próximos com uma única e perspicaz certeza: se alguém precisa parar de chorar, gritar, sangrar e sentir pra seguir em frente, não sou eu.

segunda-feira, 30 de março de 2015

Oito Patas



A gente assistiu à história toda acontecer e fez de tudo pra ajudar. Pode parecer que somos só oito patas fofinhas, mas temos muitos bigodes de astúcia. Precisamos confessar que tínhamos medo do dia que você fosse embora, papai. Certamente não por nós dois, mas pela mamãe, que vivia em função de te agradar, sem ver que a batalha estava perdida.

Até que você se foi.

Nosso receio maior era porque não sabíamos se mamãe ia notar tudo que a gente já enxergava faz tempo. Tínhamos certeza de que ela podia ficar bem sozinha, mas ela não.

A gente soube que logo você não ia aparecer mais quando começou a nos deixar esperando. A mamãe avisava que você estava vindo às 19h, mas você só aparecia depois das 23h e ficava bravo se ela pedisse alguma explicação. Depois de um tempo ela foi convencida de que estava mesmo errada. Onde já se viu querer saber por onde andava o papai naquelas quatro horas? Que maluca neurótica, né.

Os felinos também têm um olfato bastante aguçado, sabia, papai? A gente sentia em você o aroma de alguém que nunca havia estado naquela casa e você nem se ligava. Não era de se estranhar, já que você não notava nem o cheiro incrível da mamãe, sempre tão perfumada, com todos aqueles cremes importados.

Ela também te encontrava toda produzida, com roupas nas quais as mamães dos nossos amigos jamais entrariam, e você nem olhava mais pra ela. Por um tempo nos fez pensar que sua visão estava péssima, mas depois entendemos que não era bem isso.

Notamos que você não queria mais ir nos ver e, em vez de ir embora logo, quase acabou com a sanidade da mamãe. Ela ficava muito mais cheia de energia quando você não estava por perto e chorava sem entender do seu lado. Lembra? Foi bem mais de uma vez, papai.

Como você não tinha coragem de desocupar o terreno, a gente começou a tentar tirar você dali. Nunca notou que a gente passava a noite toda te arranhando e tentando te acordar, enquanto deixávamos a mamãe dormir na mais santa paz? Pois é.

Mas aí teve aquela noite que a mamãe não apareceu e a gente sabia que algo tinha acontecido, finalmente. E você não viria mais. Por alguns dias depois disso, aquela moça que entrava e saía de casa nem parecia ela mesma de tão desnorteada. Mas foi pouco tempo até que isso se tornasse algo bom.

Logo ela se mostrou mais leve e cheia de disposição. Encaixotou todo o nosso lar (menos as suas coisas, que ficaram lá, papai) e nos levou pra um novo endereço. Agora a gente tem mais espaço pra correr, novas janelas pra espiar (e escalar) e um sofá só nosso.

E a mamãe?

Ela ganhou a vida dela de volta. Perdeu alguns quilos, a maioria carregados nas costas. Ficou mais bonita, mais alegre, mais viva. Organiza o tempo dela conforme as próprias vontades, faz programas legais o tempo todo com os amigos e nunca mais ouviu ninguém dizendo que ela sufoca. Aparentemente, só você não queria a atenção dela, papai.

Ela tem andado em novas ruas, dormido em novos quartos e provado outros sabores. Ouve as músicas que tem vontade sem ser questionada, faz todos os comentários que quer durante um filme e nunca mais preparou um café da manhã que tenha sido ignorado. Criou uma rotina que você nunca vai conhecer, fez uma tatuagem na qual você nunca vai tocar e fechou as portas pra tudo que leva ao passado.

Ainda bem que o inevitável aconteceu e você se foi, abrindo espaço pra que ela voltasse a ser feliz. E ela conseguiu, como a gente esperava. Você também, né? Pelo menos é que a gente ouve ela dizendo por aí: que foi o melhor pra vocês dois.

Ronronamos aliviados.

Ela não precisa mais de você. Nem a gente. Prrr.

domingo, 31 de março de 2013

Lacuna



Notei. Foi quando já fazia horas que estava batendo nas teclas do computador sem intervalo, os olhos cansados, aquele zumbido tradicional depois de certo tempo. Antes pensava ser a tela, aquela luz incansável atingindo as córneas, mas depois de descobrir em mim um déficit de atenção digital, percebi que caí, sim, no tão famoso excesso de informação. Hum, ok, clichê. Aba atrás de aba, quero ver isso, vou ler esse artigo daqui a pouco, essa foto é nova, esse aqui ficou solteiro, essa aqui se formou, não achei superinteressante, depois eu assino, esse colunista só pode ser comprado, o anexo é muito pesado, cinco segundos para pular o anúncio. Nem mesmo sei a quantidade de vezes que mudei de janela antes de terminar esse parágrafo.

O sintoma: desatenção. Hoje passei o dia inteiro sem ouvir música. Posso ter escutado um hit qualquer vindo da rua, durante o trajeto de sempre ou em algum vídeo aleatório que eu comecei a ver mas desisti em menos de um minuto. Entretanto, os discos favoritos e os que aguardam na fila desde o lançamento não chegaram nem perto dos meus tímpanos. Música, de uma forma geral, está no topo da minha lista de interesses e, no final do dia, me dei conta de que a esqueci  lá longe, com os demais planos que ficaram dormindo quando saí de casa logo cedo. Não reservei sequer um momento para me conceder esse afago sonoro, esse carinho na alma, esse prazer tão simples para qual basta ter ouvidos. Preenchi o dia com inúmeras atividades, mas deixei uma lacuna no campo da atenção a mim mesma.

Assusta saber que mesmo estando consciente do estrago, não passo nem perto da exceção à regra: sou mais uma das vítimas.  É fácil achar errado colocar obrigações do ofício na frente dos interesses pessoais, falar confiante que não se deve sacrificar a saúde (física e mental) em nome de interesses financeiros, sociais ou profissionais. A qualidade de vida em primeiro lugar. Aham, tá bom. A gente se acha muito lúcido e esclarecido até olhar em volta e só enxergar quatro paredes, e aí perceber que encara mais o relógio do que o espelho.

Sem querer, a gente cria retratos de um desleixo consigo, provas de uma pobreza na dedicação ao próprio gozo. Mas tudo bem, é sem querer, lembra? Um vinil em silêncio, uma bicicleta às moscas, receitas guardadas, macarrão instantâneo, um violão empoeirado, um guia de viagem esquecido, um livro servindo apenas de peso. Hoje não deu tempo, amanhã sem falta, essa semana fica complicado, vou retomar durante as férias, é difícil voltar à ativa, há alguns anos eu levava jeito. Bom te ver, vamos marcar alguma coisa? Ai que saudade, mas tenho que ir, tá no meu horário.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

O time do pé



Às vezes me pego fazendo parte de um time do qual não tenho total orgulho. Para nós, o equilíbrio nem sempre é natural, então precisamos nos apoiar com firmeza sobre os dois pés. Ok, todo mundo precisa. O que nos diferencia é que um dos pezinhos se posiciona um pouco distante do outro. Deixamos ele logo ali, atrás. Longinho. Temos um pé atrás, entendeu?! Perdão, só queria me certificar.

A raça dos desconfiados não dá sossego, não acredita fácil. A gente suspeita, interroga, indaga, desconfia mais um pouco, levanta uma das sobrancelhas e respira fundo. Haja respiração. Até podemos aceitar (que é um verbo incrível, por sinal), mas acreditar, bem acreditadinho, aí já é outra história. Tem alguém aí duvidando?

O pior de tudo é que a gente se acha muito esperto. Olha só, quanta genialidade, não botar fé em ninguém, viver pensando que tem mais algo por ser revelado. O pior é quando nós mesmos somos alvo de desconfiança – aí a coisa fica feia. E veja só quanta coincidência: os destaques desse time também brilham nas equipes dos solitários, dos avarentos, dos incompletos. É um brilho ofuscado, como você deve imaginar.

É claro, tem muita gente que merece boas doses de desconfiança mesmo. Os dois pés bem longe, a vários passos de distância, inclusive. Mas essa quantidade excessiva de espertinhos no mundo, esses que acham bonito passar por cima dos outros, não é culpa dos bem intencionados. Tem gente que é bacana. Que devolve o troco quando vem errado. Que não estaciona em vaga preferencial. Que quer te fazer feliz e não de trouxa. E mais importante: tem gente que enche a forminha de gelo. Amém.

A boa notícia é que, com um bom treinador, esse time pode aproveitar o dom peculiar, esse faro aguçado – até demais. Não, não estou prestes a dizer que deveríamos todos explorar a veia investigativa. A verdade é que quem sempre acha que tem outra versão da história escondida está a poucos passos de aprender a enxergar a pluralidade, de reconhecer que há sempre mais de uma voz para discursar. 

Instintivamente, é muito fácil achar que tem algo de negativo do outro lado da porta, é uma autodefesa. Porém, com um pouquinho de esforço, a gente aprende a controlar o impulso cético. Basta ser um atleta dedicado, frequentar os treinos e se esforçar, gente. Ou pelo menos encostar bem os pés no chão, para conhecer de antemão o território onde se pode cair quando nossa intuição para o bem falha. 

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Indicação



Não é fácil falar de amor. O simples ato de mencionar essa palavra já na primeira frase é um tanto quanto ousado. Provavelmente porque em algum momento foi determinado que amar não é cool, que amar é para os tolosatestando que está todo mundo apavorado e agarrado à preservação de uma imagem impassível. Bando de coitados, nós, humanos.

Lembro-me de quando li as palavras Amar é normal, frase que inicia o livro A Manhã Seguinte Sempre Chega, de Gabito Nunes. Como deve ter sido para muita gente, a sensação que esses termos provocaram em mim foi equivalente a um soco no estômago. A ideia de amar sempre me pareceu leve e sutil com um elefante. Gabito me desafiou.

Isso foi no início de 2011 e, ainda bem, a vida deu muitas voltas desde então. Sem os pormenores desnecessários, posso dizer que, querendo, a gente vai mudando, desfazendo-se de tabus bobos e descobrindo que pode conhecer muita coisa incrível se deixar de querer parecer mais forte do que é preciso. Por isso, nesse clima inevitavelmente tenso em que se está vivendo desde a tragédia do último domingo em Santa Maria, hoje eu vim apenas para recomendar o tal sentimentozinho polêmico. Veja bem, vou mencioná-lo pela segunda vez, agora em francês para ficar mais pomposo e para não pecar na repetição: l’amour.

Recomendo um friozinho na barriga, uma timidez intensa e boa, ansiedade, pressa e insensatez. Acho essencial ficar distraído toda hora, rir sozinho e não conseguir controlar um sorriso besta quando pensa na pessoa amada. Recomendo trocar espaços lotados e etílicos por um lugarzinho no sofá, no chão, na janela; onde quer que caibam dois corpos bem próximos, o suficiente para que respirem o mesmo ar. Recomendo inseguranças, expectativas, planos, segredos e quaisquer outras bobagens que construam uma cumplicidade única e intocável. Recomendo uma companhia que desperte a generosidade mais pura. Recomendo um amor que lhe transforme na sua melhor versão.

Recomendo apaixonar-se pelas pessoas que estão por perto, que dedicam tempo, energia ou apenas um pouquinho de carinho. Indico abrir a mente e o coração para os amigos, entender sua existência como parte essencial da vida e ter uma postura (novamente) generosa. O mesmo vale para a família, composta por variações de você mesmo. É bacana ter paciência com quem a compõe, faz bem para todo mundo - até porque a gente exige bem mais dedicação do que pensa.

Recomendo encontrar lugares, atividades, objetos e comidas (sim, comidas!) que provoquem sensações boas, que completem aquilo que cada um já é ou está em busca de ser. Recomendo flexibilidade, porque a gente tem a mania de desgostar de muita besteira e perder tempo com críticas, enfraquecendo a essência das coisas, até de si mesmo. Acima de tudo, recomendo entrega. Aos sentimentos, às pessoas, a atos de coragem e até a arrependimentos – tudo, menos à covardia. Apenas porque é preciso de algo sólido em que se segurar quando a vida nos atinge com golpes irremediáveis.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Desventurados


Todo mundo gosta de ser reconhecido por realizações bacanas, de ganhar elogios por um bom trabalho (ou pelo sapato novo), de receber atenção quando a coisa aí por dentro não anda na melhor das condições. Pois bem. Difícil conhecer alguém que desgoste de admiração e dispense um olhar terno e atento. Aliás, difícil é uma palavra bem amena, porque o povo está precisando tanto de ser visto que o que once upon a time foi pedido de atenção virou necessidade de aprovação, traduzida em atitudes cotidianas aparentemente inocentes.

Todo mundo tem lá suas incertezas e as revela vez e outra - nada mais saudável. Por outro lado, os inseguros de verdade, os de carteirinha, vestem armaduras que julgam ser invisíveis, dentro das quais revelam pequenas manifestações de (perdoem-me) desespero e desorientação. Impor demais um tipo de atitude ou de pensamento, autoafirmar-se através de uma conduta intransigente e, principalmente, ostentar um determinando comportamento o tempo todo são sinais muito (muito!) nítidos de insegurança. Querer ser visto e lembrado constantemente evidencia o quanto as pessoas tentam esconder serem vulneráveis e carecidas de aprovação. E para quê?

Quem não tem culpa no cartório não necessita fazer milhares de demonstrações de boa índole. Quem entende muito de um assunto não precisa mencioná-lo o tempo todo, muito menos quando não for solicitado. Quem se gosta de verdade não precisa depreciar os outros, nem provar o que não quer para ninguém. 

Ah, ia esquecendo. Quem está satisfeito com a própria aparência, seja a forma física ou o modo de se vestir, não tem necessidade de passar o dia publicando fotos de si mesmo em redes sociais. Postura, gente. Está faltando.

Queira agradar os seus chefes, os seus professores, os seus pais, os seus amigos – fique bem à vontade inclusive para massagear o ego das pessoas. Generosidade não faz mal a ninguém, muito menos em se tratar de atitudes bacanas. Mas vá lá: há um limite entre esforçar-se para ser como almeja e sujeitar-se a moldes, condições e aprovações, tudo isso com sede de aplausos. É evidente demais e um tanto quanto patético, pessoal.

Aos autoconfiantes, dedico a minha total admiração. Adoro ver gente que não se abala por pouca coisa, que vive sua vidinha sem plateia e que não espalha arrogância por aí. Porém, estou certa de que a insegurança genuína está em todos nós – e não há problema nisso. Tomemos nota: a fragilidade faz parte desta condiçãozinha de sermos humanos. Eu acho mais fácil aceitá-la. 

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Feliz por tudo



Há alguns meses mergulhei na última compilação de crônicas da Martha Medeiros, Feliz Por Nada. No texto que intitula o livro, ela fala sobre o quanto a felicidade costuma ser conduzida por eventos específicos: trocar de emprego, ser promovido, ganhar uma bolsa de estudos, receber um aumento no salário, viajar - em resumo, conquistar algo. A ideia que a autora levanta nessa crônica investe no desapego: Martha afirma que a melhor felicidade é aquela que não vem envolta em um pacote de presente, um envelope ou um contrato. Bom mesmo é ser feliz por motivo nenhum, apenas por ser. Gente, não é lindo isso?

O problema é que, pelo menos no meu mundo, isso só considera um dos lados da moeda. Levando em conta que a vida é cíclica, não raro chega o momento em que a gente tem tudo, o emprego, a família,  a casa, os amigos e, mesmo assim, não se sente satisfeito. Mesmo gente normal, que faz o que pode pra ser justa e coerente, nem sempre pode fugir de sentimentos ruins ou de injustiças do cotidiano. Há vezes em que ter o carro do ano, uma casa novinha na praia e uma saúde impecável não significa que o estado de espírito esteja assim, uma Brastemp. É, povo, estou falando de ser infeliz por nada. Pode, viu?

Não é mistério nenhum que felicidade não vem apenas de fora para dentro, mas elementos externos são, sim, fundamentais para chegar mais perto do tal contentamento. O problema é que a ideologia em evidência alega que basta consumir os produtos certos para chegar até o bendito pote de ouro no final do arco-íris, sem ressaltar que cultura também é um produto, e que tem muito mais do que novela mostrando gente rica, bonita e feliz para ser visto e consumido - sem querer tirar o mérito da Carminha. Enquanto a massa se padroniza e tem o senso crítico inibido, ninguém parece perceber que, em geral, estamos fazendo compras no corredor errado.

Podem me chamar de inocente, mas sou do time que acredita que um almoço em família, uma volta no parque com boas companhias e uma festa bem animada no final de semana são impecavelmente efetivos em se tratar de satisfação do consumidor. Tudo isso sem a bolsa de grife, a camisa com o crocodilo e o carro com câmbio automático, que deveriam mesmo ser agrados secundários. Eu sei, vão mandar me internar num hospício, mas também acho que se sentir infeliz de vez em quando faz parte dessa condição incontestável que é sermos humanos. 

Melhor do que comprar seja-lá-o-que-for de grife, aparelhos de ginástica ou um home theater, é sintonizar na rádio bem na hora em que está tocando a sua música favorita, rir sozinho no ônibus lembrando de alguma besteira, e encerrar o dia com um beijo apaixonado. Felicidade genuína, com motivos, e que coloca em segundo plano o desejo por um novo par de sapatos - que também não é nada mal. Desculpa aí, Marthinha, mas na minha bandeira está escrito que bom mesmo é ser feliz por tudo. E sem culpa.