sábado, 20 de novembro de 2010

Vida que segue

Não é à toa que quem disse que velhos hábitos são difíceis de perder é um Rolling Stone. Uma frase tão simples repleta de tanta sabedoria não poderia ser cantada repetidamente por alguém com menor credibilidade. Mas não é de rock que quero falar.

O que Mick Jagger canta representa o que muitos de nós vivenciamos. Que atire a primeira pétala quem nunca tentou fugir de algo ou alguém cujo feitiço lhe fez mal, determinando que a partir daquele momento começaria um novo capítulo. Que atire a primeira rosa quem nunca teve uma recaída. Haja determinação.

“Eu pensei que havia me libertado”, canta Mick. É como nos sentimos ao depararmo-nos com o passado que resolveu bater na porta. Porque é sempre assim. Quando você finalmente acha que encontrou a liberdade a qual procurava, quando consegue se convencer de que o mundo ainda gira, de que recomeços acontecem conforme cicatrizamos por dentro e de que o universo torna-se positivo à medida que você também o faz, eis que surge o danado: o velho hábito. Alô, alô, paciência.

Às vezes são mais que hábitos. Tornam-se vícios. Não falo agora de vícios químicos, mas os old habits funcionam da mesma forma. Você experimenta uma vez, tudo bem. É bom, mas tudo está sob controle. E lá vai você de novo, e mais uma vez. Quando percebe que já é demais, resolve parar, então repara que quer mais, precisa. Ainda que se afaste, a mais sutil lembrança leva você de volta para o mesmo caminho.

A sacada é que não, você não precisa. Sejam lá quais forem os hábitos, eles tentam voltar. Por mais difícil que possa ser ou parecer, é necessário deletá-los. Só em momentos de extrema lucidez é possível enxergar que decisões radicais são fundamentais para seguir em frente. E dói. Apegar-se a aspectos positivos de algo que traz prejuízos é deixar-se levar pelo medo de se arrepender, de sentir dor.

A dor faz parte dos processos evolutivos, meu bem. Attraversiamo.

Perdemos tempo com receio de errar. Lembranças boas tornam-se o porto seguro dos nossos dias e damos passos que nos fazem voltar ao início do tabuleiro. Talvez os caminhos errados sejam realmente os que levam ao destino ideal, mas às vezes é preciso mudar a rota para progredir. Ou pelo menos para encontrar um novo velho hábito com o qual se ocupar.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Viajar para evoluir


Genial foi a criatura que disse que você sempre volta diferente de uma viagem. Concordo plenamente e complemento a frase: quando você viaja, as coisas acontecem. Algo muda. Decisões são tomadas. Segredos são revelados. Pode ser no local de origem ou no de destino, não importa – em algum lugar, surge o novo.

Quando deixamos nosso ninho, a vida continua acontecendo. As pessoas que ficam seguem com suas atividades, os semáforos mudam de cor, crianças brincam nas ruas, trabalhadores voltam para os lares no final do dia, o sol se põe e nasce novamente.

Ao partir de casa, parecemos deixar para trás a vida que conhecemos para adquirir uma nova. Despertador? Horário de trabalho? Preparar o jantar? Compromissos?! Nada disso. Entramos em um mundo que não é nosso, o que o torna incrível. Vivemos para conhecer, aprender, entender, admirar, experimentar. Diga olá ao melhor da vida.

Pelo mundo, nos descobrimos. Em um lugar desconhecido, não há nada nem ninguém que imponha o que você supostamente deve ser ou como deve agir e pensar. Encontramos a liberdade. Aquilo que vivenciamos passa a fazer parte do que somos. As novas experiências ficam tatuadas por dentro e nos transformam. Temos a oportunidade de esquecer as mágoas. Descobrimos novas perspectivas e revemos nossos conceitos. Crescemos. Evoluímos.

Não há semáforo ou pôr do sol que resista: nada mais é igual.