quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Dar-se uma chance

Se existe uma palavra que me define, provavelmente é resistência. Não me orgulho disso, e estou certa de que muitas outras também cumprem o papel, mas estão aí onze letrinhas que não me deixam mentir.

Eu resisto. Mudo de casa e não desfaço as malas, nem coloco fotos ou quadros nas paredes. Não tiro as etiquetas de roupas novas até a hora em que tiver certeza de que vou colocá-las. Se tenho uma tarefa desagradável para fazer, procrastino a função até o último minuto. Mas a pior de todas aprontei aqui, de onde escrevo: vim para a Espanha, mas continuei no Brasil. Digo, mentalmente. No primeiro momento achei tudo lindo, porém logo comecei o drama. Não sabia por que, mas nada aqui parecia tão bom quanto os meus amigos, a minha família, a minha universidade – a minha zona de conforto. Até que me dei conta do que estava fazendo. Mania besta.

Há quem diga que iniciar é a parte mais difícil de qualquer processo – e aqui eu carimbo o meu “concordo plenamente”. O fato é que nos acostumamos a fechar os olhos para aquilo que desconhecemos. Mal saímos da infância e desaprendemos a aprender. Facilmente qualquer coisa nova parece ser difícil, visão que nos faz evitar trilhar caminhos desconhecidos simplesmente porque – perdoem o clichê – temos medo de dar o primeiro passo.

Todos os caminhos parecem mais assustadores antes de serem percorridos, justamente porque a falta de conhecimento gera insegurança. Entretanto, não podemos nos prender ao medo do percurso. É preciso dar-se uma chance para chegar aos resultados. Conceder-se o direito de querer aprender algo do zero, dar-se licença para errar muitas vezes até começar a acertar e, principalmente, ser gentil consigo – fator fundamental em qualquer processo de aprendizagem, porém do qual esquecemos com frequência.

Criamos nossas rotinas, temos nossos hábitos, e ali permanecemos - petrificados dentro de bolhas que nem mesmo enxergamos. Tudo bem, isso não quer dizer que é necessário mudar, que há algo fora do lugar. Entretanto, a busca pelo próprio aprimoramento é fundamental, fonte de vitalidade. É preciso querer ver as perguntas e procurar pelas respostas por todos os lados. Nos lugares, nas outras pessoas, em nós mesmos.

Agora tenho resistido menos. Realizo vontades pequenas, as quais estava deixando empoeiradas dentro de mim. Mexo com tinta, com comida, com música, com idiomas – até arrisquei um pouquinho de altura, uau. Conheci pessoas que descobri serem incríveis. E vejam só: sentei em frente ao computador para tentar organizar os pensamentos nessas linhas, momento que adiava faz tempo.

Talvez a palavra que me define já tenha mudado nos últimos meses. Quem diria?

Imagens: David Reis e Luísa Silveira.