segunda-feira, 18 de abril de 2011

Velocímetro

É praticamente implícito no conhecimento público: a pressa é danosa. Nossas avós sempre ensinaram que ela é inimiga da perfeição e que os apressados comem cru. Apesar disso, na prática nossas atitudes revelam faltar-nos essa clareza. Saímos correndo de casa, não temos paciência, contamos minutos e tentamos andar mais rápido do que nossas pernas conseguem nos levar. É uma crise de ansiedade coletiva que aumenta a cada dia e são poucos os que se mantêm alheios a essa corrente acelerada.

De onde vem a sua pressa? Imagino que primariamente dos ponteiros do relógio, mas falo agora de razões. O horário para chegar ao trabalho, a tentativa de fugir do trânsito violento das 7h e das 18h, o relógio biológico apitando, o mercado de trabalho atropelando as massas, o corpo acusando urgência em encontrar o travesseiro. São argumentos plausíveis, mas a conduta das pessoas está claramente afetada por essa ânsia pelo agora. As ruas e o concreto pelos quais circulamos são testemunhas do quanto estamos progressivamente assemelhando-nos à versão mais selvagem da natureza. Aliás, sabe-se bem que na selva o instinto dos animais impera por eles serem desprovidos de racionalidade. Qual a nossa desculpa?

Tenho observado senhores e senhoras de idade avançada; o modo como falam, como andam e como se comportam. Percebo que as palavras parecem ser pronunciadas com imensa calma, os passos dados com cuidado e a atenção focada integralmente em uma coisa por vez. Admiradora convicta das gerações mais antigas e crente no poder da experiência, não consigo deixar de pensar que tal desenvoltura seja resultado de um conhecimento que só o tempo traz. Parece-me que o olhar doce e sereno dos mais maduros diz, humildemente, que eles sabem de algo de que a juventude não tem ideia.

As crianças têm pressa em tornarem-se adultas. Os jovens têm pressa em graduar-se e serem bem sucedidos. Os pedestres querem passar e os carros querem avançar o sinal quando ainda vermelho. Corremos o tempo inteiro com o foco nos resultados sem dar atenção para o percurso. Talvez o verbo na frase “Correr atrás dos objetivos” tenha sido mal empregado e a coisa toda desandou a partir daí. Quem sabe? De qualquer forma, ir em busca do que se quer geralmente funciona quando ajustamos o velocímetro interno e encontramos o equilíbrio entre fazer para ontem e deixar para amanhã. Marcelo Camelo, mesmo jovem, canta levar a vida devagar para não faltar amor. Para os demais, indico: pé no freio.