quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Indicação



Não é fácil falar de amor. O simples ato de mencionar essa palavra já na primeira frase é um tanto quanto ousado. Provavelmente porque em algum momento foi determinado que amar não é cool, que amar é para os tolosatestando que está todo mundo apavorado e agarrado à preservação de uma imagem impassível. Bando de coitados, nós, humanos.

Lembro-me de quando li as palavras Amar é normal, frase que inicia o livro A Manhã Seguinte Sempre Chega, de Gabito Nunes. Como deve ter sido para muita gente, a sensação que esses termos provocaram em mim foi equivalente a um soco no estômago. A ideia de amar sempre me pareceu leve e sutil com um elefante. Gabito me desafiou.

Isso foi no início de 2011 e, ainda bem, a vida deu muitas voltas desde então. Sem os pormenores desnecessários, posso dizer que, querendo, a gente vai mudando, desfazendo-se de tabus bobos e descobrindo que pode conhecer muita coisa incrível se deixar de querer parecer mais forte do que é preciso. Por isso, nesse clima inevitavelmente tenso em que se está vivendo desde a tragédia do último domingo em Santa Maria, hoje eu vim apenas para recomendar o tal sentimentozinho polêmico. Veja bem, vou mencioná-lo pela segunda vez, agora em francês para ficar mais pomposo e para não pecar na repetição: l’amour.

Recomendo um friozinho na barriga, uma timidez intensa e boa, ansiedade, pressa e insensatez. Acho essencial ficar distraído toda hora, rir sozinho e não conseguir controlar um sorriso besta quando pensa na pessoa amada. Recomendo trocar espaços lotados e etílicos por um lugarzinho no sofá, no chão, na janela; onde quer que caibam dois corpos bem próximos, o suficiente para que respirem o mesmo ar. Recomendo inseguranças, expectativas, planos, segredos e quaisquer outras bobagens que construam uma cumplicidade única e intocável. Recomendo uma companhia que desperte a generosidade mais pura. Recomendo um amor que lhe transforme na sua melhor versão.

Recomendo apaixonar-se pelas pessoas que estão por perto, que dedicam tempo, energia ou apenas um pouquinho de carinho. Indico abrir a mente e o coração para os amigos, entender sua existência como parte essencial da vida e ter uma postura (novamente) generosa. O mesmo vale para a família, composta por variações de você mesmo. É bacana ter paciência com quem a compõe, faz bem para todo mundo - até porque a gente exige bem mais dedicação do que pensa.

Recomendo encontrar lugares, atividades, objetos e comidas (sim, comidas!) que provoquem sensações boas, que completem aquilo que cada um já é ou está em busca de ser. Recomendo flexibilidade, porque a gente tem a mania de desgostar de muita besteira e perder tempo com críticas, enfraquecendo a essência das coisas, até de si mesmo. Acima de tudo, recomendo entrega. Aos sentimentos, às pessoas, a atos de coragem e até a arrependimentos – tudo, menos à covardia. Apenas porque é preciso de algo sólido em que se segurar quando a vida nos atinge com golpes irremediáveis.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Desventurados


Todo mundo gosta de ser reconhecido por realizações bacanas, de ganhar elogios por um bom trabalho (ou pelo sapato novo), de receber atenção quando a coisa aí por dentro não anda na melhor das condições. Pois bem. Difícil conhecer alguém que desgoste de admiração e dispense um olhar terno e atento. Aliás, difícil é uma palavra bem amena, porque o povo está precisando tanto de ser visto que o que once upon a time foi pedido de atenção virou necessidade de aprovação, traduzida em atitudes cotidianas aparentemente inocentes.

Todo mundo tem lá suas incertezas e as revela vez e outra - nada mais saudável. Por outro lado, os inseguros de verdade, os de carteirinha, vestem armaduras que julgam ser invisíveis, dentro das quais revelam pequenas manifestações de (perdoem-me) desespero e desorientação. Impor demais um tipo de atitude ou de pensamento, autoafirmar-se através de uma conduta intransigente e, principalmente, ostentar um determinando comportamento o tempo todo são sinais muito (muito!) nítidos de insegurança. Querer ser visto e lembrado constantemente evidencia o quanto as pessoas tentam esconder serem vulneráveis e carecidas de aprovação. E para quê?

Quem não tem culpa no cartório não necessita fazer milhares de demonstrações de boa índole. Quem entende muito de um assunto não precisa mencioná-lo o tempo todo, muito menos quando não for solicitado. Quem se gosta de verdade não precisa depreciar os outros, nem provar o que não quer para ninguém. 

Ah, ia esquecendo. Quem está satisfeito com a própria aparência, seja a forma física ou o modo de se vestir, não tem necessidade de passar o dia publicando fotos de si mesmo em redes sociais. Postura, gente. Está faltando.

Queira agradar os seus chefes, os seus professores, os seus pais, os seus amigos – fique bem à vontade inclusive para massagear o ego das pessoas. Generosidade não faz mal a ninguém, muito menos em se tratar de atitudes bacanas. Mas vá lá: há um limite entre esforçar-se para ser como almeja e sujeitar-se a moldes, condições e aprovações, tudo isso com sede de aplausos. É evidente demais e um tanto quanto patético, pessoal.

Aos autoconfiantes, dedico a minha total admiração. Adoro ver gente que não se abala por pouca coisa, que vive sua vidinha sem plateia e que não espalha arrogância por aí. Porém, estou certa de que a insegurança genuína está em todos nós – e não há problema nisso. Tomemos nota: a fragilidade faz parte desta condiçãozinha de sermos humanos. Eu acho mais fácil aceitá-la.