Detesto me justificar. No geral
porque sou bem confiante quanto às minhas boas intenções. Também porque
acredito que quem me conhece não cai no julgamento imediato e superficial, e
quem o faz torna-se desmerecedor de atenção e explicações minhas. E não é
verdade?
Santa inocência.
Tudo bem, botar fé nas pessoas é
muito bom, mas pensar que ninguém em sã consciência vai interpretar nossas
atitudes de forma equivocada já é muita ingenuidade. Além disso, ninguém é
santo. Ou perfeito. Ou coerente em tempo integral. Impossível não levar em
conta a imprevisibilidade humana, até porque a gente mesmo se surpreende com reações
inesperadas. Somos vítimas de circunstâncias (bate aí, Lulu). Erramos. Mesmo as
pessoas boas podem despertar o pior nos mais bem intencionados. E a turminha de
caráter duvidoso, nem se fala.
Mesmo se acreditar que as pessoas
agem segundo os mais nobres propósitos, ainda assim com frequência a gente
aceitaria uma justificativa voluntária.
A vez em que alguém foi indelicado, a ligação que não foi retornada, um
momento de comportamento infantil: tudo isso pesa e faz a gente repensar a
imagem que tem do outro. Um pedido de desculpas cairia bem. E mesmo em casos em
que coisas banais justificam - estava com pressa na hora, esqueceu-se de ligar,
estava num dia estranho -, não acho que alguém dispensaria um esclarecimento.
Exatamente por isso é necessário, sim, deixar satisfações por aí.
As pessoas estão seguindo uma
ideia tendenciosa de que o melhor é ser indiferente. Como se ninguém se
importasse com nada e, mais absurdo ainda, como se não sentisse. Realmente,
muitos valores mudam a cada nova geração, e tudo funciona de uma forma mais
prática. Mas humanos não deixamos de ser. Meus órgãos não são sintéticos, e os
seus?
Logicamente não faz sentido sair
se explicando para todo mundo; tem gente que definitivamente não merece a atenção.
Porém, tendo um pouquinho de consideração por alguém – ou então sabendo-se que é
o objeto de afeto -, é sempre válido demonstrar que o que o outro sente tem
relevância. É bacana deixar de lado o orgulho e dizer que sente muito. Ou um
simples ‘porque’ – junto e sem circunflexo, a boa e velha conjunção
explicativa. Não custa dar um descanso para o acaso, que faz o possível para
corrigir as nossas faltas.
E que tal (veja bem a minha
ousadia) abrir a boca para dizer algo apenas gentil? Foi bom reencontrar aquela
pessoa, o colega teve uma ideia ótima no trabalho, a amiga está linda hoje?
Pois é, eles podem já saber, mas não lhes faria mal ouvir. Ninguém dispensa um
carinho ou mesmo uma massagem no ego. O silêncio é necessário e tem uma força
absurda, mas contando com isso a gente tem deixado de falar até mesmo o
fundamental.
Bem isso, senti falta do curtir agora!
ResponderExcluirSensacional, como sempre. Parabéns, moça.
ResponderExcluir"Se tens um coração de ferro, bom proveito.
O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia." (Saramago)
Sensacional e sem dúvidas, inspirador! Por isso que te admiro tanto, pequena grande amiga!
ResponderExcluirVocês são demais, heinhô!
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