Está circulando na internet um texto, de autor desconhecido, chamado “A Síndrome dos Vinte e Poucos Anos”. Apesar de a princípio desconfiar desses virais cujo conteúdo parece encantar a todos muito facilmente, cheirando a produto que já vem digerido - como qualquer um dos livros de Nicholas Sparks, a nova casa noturna que você preciiiisa conhecer, e, mais ainda, figuras talentosíssimas (totalmente comerciais) ao estilo de Lana del Rey ou Lady Gaga -, resolvi descobrir o que havia na obra assinada por DESCONHECIDO, Autor.
O Mr. Unknown não escreveu nada de extraordinário, mas utilizou-se do infalível artifício conhecido como identificação, fazendo a galerinha que recém começou a viver a terceira década de vida enxergar-se naquelas linhas como se diante de um espelho. Estando eu incluída na faixa etária, tive a mesma sensação que meus parceiros de clubinho: ao ler as palavras que descreviam muito de como tenho me sentido, quais mudanças tenho percebido, e o rumo que em geral os acontecimentos têm tomado, pareceu-me que o sem-nome andou espionando meus pensamentos.
O autor-oráculo decorre sobre como nossos gostos inclinam-se para uma direção mais determinada, o quanto nossa tolerância adolescente dá lugar para o pensamento crítico, como nossa percepção altera-se drasticamente, além do círculo (e vida) social que, para quem não fica preso ao mesmo universo dos anos teen, costuma mudar consideravelmente. Em resumo, sobre as alterações todas que podem (ou não) desvairar nossas metamórficas cabecinhas. Francamente, acredito que quem não passou por nenhuma transformação nessa etapa de natural transição provavelmente segue consultando o pediatra e ganhando pirulito na saída. Metaforicamente falando. Ou não.
Ter vinte e poucos significa sair da zona de conforto que há pouco havia despedido-se da infância e apenas avistava longinquamente a vida adulta e as responsabilidades incluídas no pacote. Os vinte e poucos de agora em nada têm a ver com os de nossos pais, ainda que eles jurem ter passado por exatamente as mesmas coisas. É uma idade em que damos de novo os primeiros passos, descobrimos a independência, entendemos a singularidade, desvendamos o respeito e a gratidão, vivenciamos uma avalanche de sentimentos novos, desta vez sem todas as bobagens essenciais da adolescência. Seja mudando completamente ou seguindo o mesmo caminho, começamos a moldar com maior clareza quem seremos nas próximas décadas. E, sim, já dá para começar a contabilizar décadas.
Diferentemente do Autor Desconhecido, não desejo ter novamente 16 anos, mas concordo que os 30 chegam em um piscar de olhos - sem pânico, gente. Aproveitemos, então, os 20 e companhia, entendendo tudo e nada ao mesmo tempo, e permitindo-nos viver quantas crises forem necessárias. Ainda estão para inventar uma maneira mais divertida de enlouquecer.